O Enigma do Pontinho Branco
Mucina, Papila Dérmica e o Verdadeiro Papel
das Estruturas Foliculares na Queda Capilar
Autora: Dra. Denise Braga – Biomédica,
Tricologista, Naturopata, Especialista em Saúde Integrativa e Diagnóstico
Funcional
Resumo
A queda capilar é um fenômeno de alta
prevalência que ainda gera dúvidas entre profissionais da saúde. Uma das mais
recorrentes é a identificação do “pontinho branco” na extremidade distal de
fios que caem. Este artigo explora, sob uma perspectiva embriológica,
histológica e fisiológica, a natureza da papila dérmica, da mucina e da matriz
folicular, com o intuito de esclarecer equívocos comuns e aprimorar a
interpretação clínica. Conclui-se que o conhecimento anatômico preciso é
fundamental para uma abordagem terapêutica eficaz no manejo da queda capilar.
Palavras-chave: papila dérmica, mucina,
folículo piloso, queda capilar, matriz extracelular
1. Introdução
A queda de cabelo, além de afetar a
autoestima, é um marcador importante de alterações fisiológicas e patológicas.
O entendimento das estruturas envolvidas no crescimento e ancoragem dos fios é
essencial para os profissionais da tricologia clínica e funcional. Entre os
mitos difundidos está a ideia de que a mucina “segura” o fio no couro cabeludo,
frequentemente confundida com o material observado na extremidade distal dos
fios em fase telógena (1,2).
2. Objetivo
Esclarecer, à luz da embriologia e da
histologia folicular, a composição do “pontinho branco” presente nos fios que
caem, e o papel real da papila dérmica e da mucina na saúde capilar.
3. Metodologia
Trata-se de uma revisão narrativa
fundamentada em literatura científica indexada nas bases PubMed, SciELO e
Google Scholar, com ênfase nos artigos publicados nos últimos 15 anos sobre
papila dérmica, mucina e ciclo capilar.
4. Papila dérmica: a mente mesenquimal do folículo capilar
A papila dérmica, de origem mesodérmica,
constitui o núcleo de regulação do folículo piloso. É rica em fibroblastos,
vasos sanguíneos e matriz extracelular composta por colágeno tipo III, ácido
hialurônico e fatores de crescimento como IGF-1, FGF e VEGF. Essa estrutura
sinaliza e induz o crescimento folicular durante a fase anágena e permanece no
couro cabeludo mesmo após a queda do fio (1,5).
5. O “pontinho branco”: estrutura telógena, não papilar
O ponto branco visível na extremidade dos
fios em queda não corresponde à papila dérmica. Trata-se, na realidade, de uma
combinação de: bainha epitelial externa queratinizada; sebo e resíduos
celulares; possível acúmulo de queratina compactada. Essa estrutura é típica do
bulbo telógeno, indicando que o fio completou seu ciclo de vida e se desprendeu
do folículo (2).
6. Mucina: presença patológica, não estrutural
A mucina é uma glicoproteína secretada em
mucosas e em contextos específicos da pele, notadamente em doenças
inflamatórias ou autoimunes. No couro cabeludo, sua produção está associada a
condições patológicas como alopecia mucinosa, lúpus cutâneo e mucinose
folicular (3,4).
7. Origem da confusão
A aparência esbranquiçada, gelatinosa e a
localização do bulbo telógeno favorecem o equívoco visual com a mucina. Além
disso, muitos profissionais confundem mucina inflamatória com componentes da
matriz extracelular fisiológica, como ácido hialurônico e proteoglicanos (1,5).
8. O que sustenta, de fato, o fio de cabelo?
A ancoragem e manutenção de um fio saudável
dependem de diversos fatores fisiológicos: integridade da papila dérmica,
preservação da matriz extracelular, equilíbrio hormonal e ausência de
inflamação crônica (1,5).
9. Conclusão
A correta interpretação das estruturas
capilares é essencial para a conduta clínica em tricologia. A confusão entre o
pontinho branco do bulbo telógeno, a papila dérmica e a mucina compromete a
eficácia terapêutica e propaga mitos entre profissionais e pacientes.
Referências
1. Paus R, Foitzik K. In search of the
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2. Dinh QQ, Sinclair R. Telogen effluvium.
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3. Elston DM. Mucinous disorders of the
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4. Lo Schiavo A, et al. Cutaneous
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5. Stenn KS, Paus R. Controls of hair
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